OFICINA- escrita sobre o primeiro
dia!
Em setembro durante o Festival Contato em São Carlos, eu e Georgianna Dantas ministramos a oficina de três dias
chamada por nós de “Trânsito: investigações acerca do corpo em espaço urbano”,
agradecemos aos participantes pela entrega, segue aqui um relato poético sobre o primeiro dia de trabalho.
Nosso trabalho
inicia-se com exercícios práticos, antes de ir para a rua, começamos dentro de
sala, ali nós começamos um trabalho de escuta através do contato.
Tornar a escuta do corpo possível.
Ouvir para depois dizer. Pouco se escuta o corpo. Ali se abre um espaço pra
isso. Ali procuramos construir um espaço de liberdade, para que possamos
enxergar além dos padrões de comportamento.
Ao decorrer dos
exercícios pude perceber uma aura diferente naquela sala, aos poucos, fomos nos
conhecendo.
Conhecer com
o tato. Conhecer a matéria. Essa que tanto nos estranha e que tanto nos causa
espanto. É preciso fechar os olhos para sentir. É preciso deixar de lado certas
barreiras para alcançar a experiência. O corpo é cheio de verdades que
ignoramos.
Fomos
descobrindo com o grupo a necessidade de desconstrução. A necessidade de
envolver-se de outro modo com o corpo, o seu e o do outro. Fomos descobrindo os
vários corpos que habitam e desabitam o espaço.
O corpo da
planta foi parar no meio da sala!
O corpo de
alguém pulou pra fora da sala e deu um grito!
(O corpo
das pessoas) que assistia aula parou para observar (o corpo do faxineiro) disse
que achou interessante e necessário aquilo, (o corpo do espaço) estremeceu e ganhou
mais espaço daquele espaço. Os espaços da instituição onde estávamos iam se
tornando mais interessantes.
Nesse
primeiro momento de oficina, nos interessava provocar a percepção dos
participantes acerca corpo e dos corpos possíveis de contato e criação. Abrir a
escuta para que pudéssemos depois encontrar-se com a rua. Nossos sentidos estão
demasiadamente adormecidos, então esse trabalho é a
experiência, é a vitalidade, e carrega seu potencial subversivo num tempo onde correr
é natural, parar, perceber e sentir é quase proibido.
Mayra
Mayra Pimenta é licenciada em artes cênicas pela Ufop, é atriz, bailarina e performer. Atualmente é colaboradora do Núcleo Anticorpos (MG) e da Cia. Etra de Dança Contemporânea (SP).