segunda-feira, 29 de setembro de 2014

OFICINA- escrita sobre o primeiro dia!
Em setembro durante o Festival Contato em São Carlos, eu e Georgianna Dantas ministramos a oficina de três dias chamada por nós de “Trânsito: investigações acerca do corpo em espaço urbano”, agradecemos aos participantes pela entrega, segue aqui um relato poético sobre o primeiro dia de trabalho.

Nosso trabalho inicia-se com exercícios práticos, antes de ir para a rua, começamos dentro de sala, ali nós começamos um trabalho de escuta através do contato.
Tornar a escuta do corpo possível. Ouvir para depois dizer. Pouco se escuta o corpo. Ali se abre um espaço pra isso. Ali procuramos construir um espaço de liberdade, para que possamos enxergar além dos padrões de comportamento.
Ao decorrer dos exercícios pude perceber uma aura diferente naquela sala, aos poucos, fomos nos conhecendo.
Conhecer com o tato. Conhecer a matéria. Essa que tanto nos estranha e que tanto nos causa espanto. É preciso fechar os olhos para sentir. É preciso deixar de lado certas barreiras para alcançar a experiência. O corpo é cheio de verdades que ignoramos.
Fomos descobrindo com o grupo a necessidade de desconstrução. A necessidade de envolver-se de outro modo com o corpo, o seu e o do outro. Fomos descobrindo os vários corpos que habitam e desabitam o espaço.
O corpo da planta foi parar no meio da sala!
O corpo de alguém pulou pra fora da sala e deu um grito!
(O corpo das pessoas) que assistia aula parou para observar (o corpo do faxineiro) disse que achou interessante e necessário aquilo, (o corpo do espaço) estremeceu e ganhou mais espaço daquele espaço. Os espaços da instituição onde estávamos iam se tornando mais interessantes.
Nesse primeiro momento de oficina, nos interessava provocar a percepção dos participantes acerca corpo e dos corpos possíveis de contato e criação. Abrir a escuta para que pudéssemos depois encontrar-se com a rua. Nossos sentidos estão demasiadamente adormecidos, então esse trabalho é a experiência, é a vitalidade, e carrega seu potencial subversivo num tempo onde correr é natural, parar, perceber e sentir é quase proibido.

Mayra 


Mayra Pimenta é licenciada em artes cênicas pela Ufop, é atriz, bailarina e performer. Atualmente é colaboradora do Núcleo Anticorpos (MG) e da Cia. Etra de Dança Contemporânea (SP).