quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Sapatos

"O jogo dos passos cria espaços tece lugares" 
                                     Michel de Certeau



No domingo - 14 de setembro dançamos com sapatos. A experimentação artística aconteceu do Parque no Bicão na cidade de São Carlos interior do estado de SP, 8 º Festival Contato.   

Sim, havia muitas pessoas, e muitos pares de sapatos e nós. Dois palcos e um caminho entre eles, pessoas em trânsito festivo e nós, multiplicando os espaços, esferas do imaginário. Estado do entre, de não saber e ir e ser; com toda inteireza nossa, cada passo. Eu sou meu passo vivo.  Eu posso e com todo compasso descompassado eu sigo. Tem destino meu caminhar?  

A experiência de percorrer pelos espaços públicos carregando muitos pares de sapatos baseia-se no desejo do trajeto inverso. O corpo a caminho segue traçando possíveis relações entre os espaços, sapatos, paredes, árvores, ruas, calçadas, escadas, outros. A dança cria-se nesse balanço.  

Pesquisar as complexas corpografias por meio aos passos. Os sapatos da história: memória inscrita no corpo. Um determinado recorte, eu lanço, eu vou, nós vamos.  Que se faça a vida, o teatro, as relações, as oposições. Que no conflito avancemos no processo, sempre em processo.  

Na cidade há lugar para todas as histórias? 

Para você, terno preto sapato social. Para você, vestidinho curto sandália social. Você, camisa e bermuda com chinelo social? 

A história compartilhada faz do encontro, outro. Eu também sou você. Partilho com você meu ossos, pele, nervos, buracos; iguais e diferentes dos seus. Eu sou aquela música, o som que sai do seu esforço. Você sou eu, deitada no chão, pele e terra grudadas num circuito pedindo apelo aos céus.  

O suor que escorre em nós não é ponto final.     
é seiva que alimenta a matéria.
é princípio da escavação
até as camadas do invisível.
e de lá, cara a cara com os submundos,
emergir. 
desorganizar para expandir.


Georgianna Dantas